Eu acordei numa manhã como qualquer outra, mas com um simples e claro objetivo na minha mente que outras vezes já tinha passado por minha cabeça, mas não com tanta certeza de iria cumprí-lo. A foto e tudo mais que me trouxesse você de volta, escondi e coloquei bem longe de qualquer saudade que me tirasse o sossego e me fizesse pegar tudo de volta e ver, lembrar, chorar e me crucificar por tudo. E decidida eu quis esquecer você.
No caminho do trabalho, eu sentei e me desliguei do mundo com fones que ecoavam uma música que eu mal ouvia meus pensamentos e na hora eu não percebi, mas pela primeira vez eu passei pelo ponto que você pegava o onibus sem olhar pela catraca para ver se você subia, eu olhava somente pela janela e respondia umas mensagens alheias. Foi quando eu virei o rosto e vi uma pessoa de pé, identica a você, e pensei "mais uma vez minha cabeça te vendo em qualquer lugar", e o rosto se virou e para meu espanto, incredibilidade, felicidade e uma série de sentimentos, era realmente você. Por alguns segundos pensei em não falar com você, mas foram na verdade milésimos de segundos e eu levantei, indo até você, ainda pensando que engraçada era a vida e que algumas horas atras eu desitira de você, sem a menor esperança de te ver ainda aquele ano e ao mesmo tempo agradecendo por ter colocado você ali no meu caminho, mais uma vez. Nem me lembro da maneira que chamei sua atenção, só lembro que você olhou com surpresa e sorriu, e conversamos sobre as mesmas coisas superficiais que costumavamos conversar das ultimas vezes, e eu nunca desejei tanto que estivesse trânsito ou por qualquer outra razão aquele percurso demorasse mais. No meio do caminho eu pensava em te perguntar tanta coisa, mas não conseguia, percebi que minhas mãos tremiam ao pegar o celular, eu continuava aquela conversa que se tem com qualquer pessoa conhecida pensando que por mais distante do que era antes, era boa aquela conversa sem nenhuma lembraça, e algumas risadas sobre coisas tolas, em que nada envolvia nós antigamente. E eu desci do ônibus meio triste, meio feliz, e completamente esperançosa, afinal o ano acabara.